3D: quem precisa dele?
Isto nos leva a outro problema com o entretenimento em 3D, um que não gera tanta discussão na comunidade técnica: os problemas artísticos e estéticos introduzidos pelo 3D.
O tamanho e detalhes da maioria das cenas em um filme, especialmente em uma tela grande, criam um efeito 3D próprio. Adicione 3D de verdade a isto e o diretor tem de tomar uma série de decisões extras: quão frequentemente posso cortar sem desorientar a platéia? O que manter em foco, um objeto ou toda a cena? Faço esta parte “saltar” da tela ou “afundar” dentro dela, como o diretor Werner Herzog quer fazer com seu futuro documentário em 3D sobre as pinturas na caverna de Chauvet?
Questões como estas, mais os problemas técnicos gerados pelo 3D, fizeram o crítico de cinema Roger Ebert escrever um artigo para a revista Newsweek onde condena o 3D no cinema como um “truque inútil”. Seria uma forma de não só fazer os espectadores pagarem mais pelo ingresso, declarou, como de forçar os donos de cinemas a atualizar seu equipamento de projeção. O crítico do New York Times A. O. Scott disse que o 3D é mais adequado a animação do que filmes convencionais, que os “efeitos quase holográficos onde as coisas saltam da tela” parecem mais adequados a filmes “etéreos” como Alice no País das Maravilhas e Fúria de Titãs.
Em outras palavras, um bom filme em 2D não precisa de 3D para ficar melhor, assim como um bom filme em preto e branco não tem seu valor reduzido apenas por não ter cor.
Outro problema em potencial para o 3D é médico, e não estético. A CNN.com citou um professor de oftalmologia que alegou que 20% dos espectadores que assistem conteúdo em 3D por períodos prolongados de tempo sentem tonturas e náusea.
É possível por a culpa de parte disso no que acontece quando você pega conteúdo com cenas muito movimentadas, mais adequado a 2D, e o exibe em 3D. Os espectadores não conseguem focar o que está acontecendo rápido o suficiente e ficam enjoados. 3D também parece ser um incômodo para pessoas que tem problemas de visão como estrabismo ou epilepsia fotosensível. O efeito “estroboscópico” criado pelas lentes pode não ser perceptível para a maioria das pessoas, mas os que são sensíveis a ele podem ter de dores de cabeça a desmaios. A Samsung, que fabrica TVs 3D, já emitiu avisos sobre o problema.
Jogos
Filmes e TV em 3D podem não ser uma boa aposta, mas há outra forma de entretenimento que pode não só gerar mais interesse pelo 3D como ser feita “sob medida” para a técnica: video games.
Há várias razões pelas quais jogos e 3D combinam. Gamers são geralmente mais receptivos a novas tecnologias (e geralmente tem dinheiro para adquiri-las), a geração atual de consoles e placas de vídeo já suporta jogos e telas em 3D com uma simples atualização dos drivers ou firmware, e os jogos são o tipo de experiência onde o 3D pode ser realmente útil.
Tentativas anteriores de games em 3D, como o Virtual Boy lançado pela Nintendo em 1995, eram complexas pois dependiam de tecnologia que ainda não estava completamente desenvolvida e não funcionava em nenhum outro lugar. Mas os novos sistemas usam a mesma tecnologia 3D que já é encontrada nas TVs mais recentes, assim como aconteceu com a alta-definição.
Assim como os filmes, nem todo jogo se beneficia do efeito 3D, mas há os que se beneficiam imensamente. No ano passado, durante o evento de lançamento do Windows 7 em Nova Iorque, experimentei a versão PC de Batman: Arkham Asylum usando um sistema de óculos da NVIDIA em uma TV de Plasma de 120 Hz da Samsung. O efeito 3D foi satisfatório, e o alternar da imagem nas lentes dos óculos praticamente imperceptível.
3D sem óculos
Uma forma do 3D ganhar espaço contra o 2D é com uma tecnologia de telas que não exija o uso de óculos. A ficção científica brinca com este conceito há décadas: uma imagem holográfica projetada no ar, ou exibida dentro de um cubo ou esfera. Tais sistemas ainda estão distantes, mas há várias empresas que estão trabalhando em telas 3D que usam tecnologias já existentes de forma criativa.
A maioria dos leitores já deve ter visto uma forma de 3D chamada 3D lenticular, que usa uma folha de plástico coberta com linhas verticais como uma espécie de lente para criar um efeito 3D em cartões de visita e anúncios. Algumas empresas estão trabalhando em telas que usam uma variação desta tecnologia. Uma empresa chamada CubicVue vende um filtro filtro lenticular que é projetado para ser instalado sobre uma tela convencional. A empresa também diz que sua tecnologia pode ser embutida diretamente na tela, o que deve produzir melhores resultados.
Os fabricantes de telas não são os únicos interessados em 3D sem óculos. O recém anunciado Nintendo 3DS é um console que não só tem uma tela 3D como tem um sistema com duas câmeras capazes de tirar fotos 3D, que podem ser exibidas na tela principal do aparelho.
Nintendo 3DS: Imagens 3D sem uso de óculos
Conclusões
Sempre haverão pessoas que tem o desejo que ter o que há de mais moderno em tecnologia, e estas pessoas provavelmente já compraram uma TV 3D. Para o resto de nós, faz mais sentido esperar até que alguns dos problemas com a tecnologia 3D para uso doméstico tenham sido resolvidos.
A verdade é que o 3D não irá substituir o 2D - porque há muitas razões para manter o 2D. Ele é prático, eficiente e acima de tudo barato. Quase toda a tecnologia 3D existente hoje tem um custo extra. E mesmo quando o custo for reduzido, ainda assim será mais difícil criar conteúdo 3D que 2D - especialmente conteúdo originalmente em 3D e não algo meramente “sintetizado” a partir de 2D.
O que o 3D fez e vai continuar fazendo é criar um mercado pequeno e significante para conteúdo especializado. Ele não vai substituir o 2D, mas irá complementá-lo - da mesma forma como os netbooks e o iPad acompanham os desktops e notebooks convencionais. E a busca por uma tecnologia 3D que não requer nada mais que um par de olhos saudáveis é uma aventura por si só, que mal começou.
Créditos: PC World
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